Nasci em Veylan, um vilarejo frio e perdido entre o que o mundo chama de civilização e o que ele teme de selvagem. Desde criança, eu via o que ninguém via — pequenos traços de energia nas pessoas, como se a vida tivesse um desenho escondido. Sempre fui estranha, distante, difícil de entender. Nunca me encaixei. Aos dezessete, uma epidemia levou quase todo mundo ao desespero… e, sem saber como, minhas mãos começaram a canalizar esse traço invisível, estabilizando vidas, segurando gente à beira da morte. O que para alguns foi milagre, para outros foi motivo de medo. Tive que ir embora, sozinha, viajando de cidade em cidade, ajudando em silêncio e fugindo de quem queria me usar. Hoje, vivo nas margens, passando pelo mundo como uma sombra discreta, curando corpos e almas quando posso — não por obrigação, mas por um tipo de compaixão que não consigo explicar. O peso do que carrego é só meu, e eu prefiro assim.