cozy unicorn

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A Lamparina da Biblioteca da Noite Num canto recôndito da cidade de Monte Férreo, elevava-se uma mansão antiga, cuja majestade já há muito fora esquecida, mas cujos segredos ainda permaneciam profundamente guardados. Essa era a Biblioteca da Noite, um local que, embora negligenciado durante o dia, à noite tornava-se alvo de rumores e histórias fantásticas. O boato mais persistente envolvia uma lamparina, cuja chama, dizem, jamais se apaga. Luísa, uma jovem de espírito investigativo e imaginação fértil, cresceu ouvindo essas histórias. Contudo, longe de assustá-la, as narrativas despertavam nela uma curiosidade ardente, algo que ela mal podia compreender. Movida por essa inquietação, uma noite, decidiu visitar a biblioteca. A atmosfera lá dentro era de uma solenidade quase insuportável, onde a escuridão parecia não apenas ocultar, mas também carregar consigo o peso de eras passadas. Ao adentrar, seus olhos logo encontraram a lamparina, flutuando no centro do salão como que suspensa pelo próprio ar. A chama bruxuleava suavemente, projetando sombras que dançavam ao ritmo do vento invisível. Ao aproximar-se, Luísa sentiu que aquele lugar estava longe de ser um mero armazém de livros — ele parecia vivo, pulsante com o fôlego de mil histórias ainda por serem contadas. Não demorou muito para que a sua presença fosse notada por uma figura que até então se ocultara nas sombras. Um cavalheiro, alto e envolto em um manto negro, emergiu de uma das alas laterais. Ele era Gabriel, guardião da biblioteca, e seus modos, ainda que contidos, eram carregados de uma espécie de dor silenciosa, que intrigou Luísa. Ele explicou que a biblioteca guardava mais do que simples livros — ela abrigava portais para mundos perdidos, realidades alternativas, onde criaturas de natureza sombria permaneciam aprisionadas. E a lamparina que ela tanto admirara era, na verdade, a chave para manter essas entidades longe do mundo humano. “E a senhora,” disse Gabriel, com um olhar que mesclava desdém e preocupação, “parece ter despertado o interesse delas.” Luísa, de natureza destemida, não se deixou intimidar por tais palavras. Ao contrário, sentiu-se ainda mais determinada a explorar o lugar, e mais ainda, determinada a desvendar os segredos que cercavam não só a lamparina, mas também o misterioso Gabriel. A biblioteca, agora iluminada por aquela chama mágica, começou a revelar seus perigos ocultos. Livros que antes pareciam pacíficos começaram a sussurrar, e das sombras, seres conhecidos como os Sem-Rostos emergiam, ávidos por capturar qualquer alma incauta. Gabriel, com uma mescla de habilidade e resignação, lutava contra essas criaturas, enquanto Luísa, com um fervor novo, percebeu que a biblioteca estava profundamente conectada com suas próprias emoções. Era como se seus medos e desejos mais profundos alimentassem a escuridão ao redor. Durante essa luta, Gabriel revelou a ela algo ainda mais perturbador. Ele mesmo fora, há muito tempo, parte dos Sem-Rostos, uma criatura condenada a vagar eternamente por entre histórias inacabadas. No entanto, ao ver o mundo humano, uma centelha de humanidade havia despertado dentro dele. Agora, preso à biblioteca como seu guardião, Gabriel estava destinado a proteger o mundo humano das criaturas que um dia foram seus iguais. Entre uma batalha e outra, o relacionamento entre Luísa e Gabriel começou a mudar. A intensidade do perigo em que se encontravam aproximava-os, mas havia também algo mais: um afeto genuíno, construído sobre a vulnerabilidade de Gabriel e a força silenciosa de Luísa. No entanto, havia uma verdade inescapável — a biblioteca exigiria um sacrifício para manter seu equilíbrio. No final, Gabriel tomou a decisão de entregar-se de volta à escuridão, selando o portal para os Sem-Rostos, e preservando o mundo humano de sua invasão. Ele fitou Luísa uma última vez, com um olhar que dizia mais do que qualquer palavra poderia expressar. Ela, com o coração pesado, aceitou seu destino, sabendo que aquela chama que ardia na lamparina nunca mais seria a mesma. Ao sair da biblioteca, a alma de Luísa estava dividida entre a alegria de ter sobrevivido e a tristeza de ter perdido alguém que ela mal começara a conhecer. A lamparina continuava a brilhar, mas agora seu brilho parecia melancólico, como que carregando consigo a memória de Gabriel, o guardião da noite.
—— the end ——
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A Lamparina da Biblioteca da Noite Num canto recôndito da cidade de Monte Férreo, elevava-se uma mansão antiga, cuja majestade já há muito fora esquecida, mas cujos segredos ainda permaneciam profundamente guardados. Essa era a Biblioteca da Noite, um local que, embora negligenciado durante o dia, à noite tornava-se alvo de rumores e histórias fantásticas. O boato mais persistente envolvia uma lamparina, cuja chama, dizem, jamais se apaga. Luísa, uma jovem de espírito investigativo e imaginação fértil, cresceu ouvindo essas histórias. Contudo, longe de assustá-la, as narrativas despertavam nela uma curiosidade ardente, algo que ela mal podia compreender. Movida por essa inquietação, uma noite, decidiu visitar a biblioteca. A atmosfera lá dentro era de uma solenidade quase insuportável, onde a escuridão parecia não apenas ocultar, mas também carregar consigo o peso de eras passadas. Ao adentrar, seus olhos logo encontraram a lamparina, flutuando no centro do salão como que suspensa pelo próprio ar. A chama bruxuleava suavemente, projetando sombras que dançavam ao ritmo do vento invisível. Ao aproximar-se, Luísa sentiu que aquele lugar estava longe de ser um mero armazém de livros — ele parecia vivo, pulsante com o fôlego de mil histórias ainda por serem contadas. Não demorou muito para que a sua presença fosse notada por uma figura que até então se ocultara nas sombras. Um cavalheiro, alto e envolto em um manto negro, emergiu de uma das alas laterais. Ele era Gabriel, guardião da biblioteca, e seus modos, ainda que contidos, eram carregados de uma espécie de dor silenciosa, que intrigou Luísa. Ele explicou que a biblioteca guardava mais do que simples livros — ela abrigava portais para mundos perdidos, realidades alternativas, onde criaturas de natureza sombria permaneciam aprisionadas. E a lamparina que ela tanto admirara era, na verdade, a chave para manter essas entidades longe do mundo humano. “E a senhora,” disse Gabriel, com um olhar que mesclava desdém e preocupação, “parece ter despertado o interesse delas.” Luísa, de natureza destemida, não se deixou intimidar por tais palavras. Ao contrário, sentiu-se ainda mais determinada a explorar o lugar, e mais ainda, determinada a desvendar os segredos que cercavam não só a lamparina, mas também o misterioso Gabriel. A biblioteca, agora iluminada por aquela chama mágica, começou a revelar seus perigos ocultos. Livros que antes pareciam pacíficos começaram a sussurrar, e das sombras, seres conhecidos como os Sem-Rostos emergiam, ávidos por capturar qualquer alma incauta. Gabriel, com uma mescla de habilidade e resignação, lutava contra essas criaturas, enquanto Luísa, com um fervor novo, percebeu que a biblioteca estava profundamente conectada com suas próprias emoções. Era como se seus medos e desejos mais profundos alimentassem a escuridão ao redor. Durante essa luta, Gabriel revelou a ela algo ainda mais perturbador. Ele mesmo fora, há muito tempo, parte dos Sem-Rostos, uma criatura condenada a vagar eternamente por entre histórias inacabadas. No entanto, ao ver o mundo humano, uma centelha de humanidade havia despertado dentro dele. Agora, preso à biblioteca como seu guardião, Gabriel estava destinado a proteger o mundo humano das criaturas que um dia foram seus iguais. Entre uma batalha e outra, o relacionamento entre Luísa e Gabriel começou a mudar. A intensidade do perigo em que se encontravam aproximava-os, mas havia também algo mais: um afeto genuíno, construído sobre a vulnerabilidade de Gabriel e a força silenciosa de Luísa. No entanto, havia uma verdade inescapável — a biblioteca exigiria um sacrifício para manter seu equilíbrio. No final, Gabriel tomou a decisão de entregar-se de volta à escuridão, selando o portal para os Sem-Rostos, e preservando o mundo humano de sua invasão. Ele fitou Luísa uma última vez, com um olhar que dizia mais do que qualquer palavra poderia expressar. Ela, com o coração pesado, aceitou seu destino, sabendo que aquela chama que ardia na lamparina nunca mais seria a mesma. Ao sair da biblioteca, a alma de Luísa estava dividida entre a alegria de ter sobrevivido e a tristeza de ter perdido alguém que ela mal começara a conhecer. A lamparina continuava a brilhar, mas agora seu brilho parecia melancólico, como que carregando consigo a memória de Gabriel, o guardião da noite.

3 months ago

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